Monday, March 13, 2006


O pássaro cativo

Armas, num galho de árvore, o alçapão
E, em breve, uma avezinha descuidada,Batendo as asas cai na escravidão.
Dás-lhe então, por esplêndida morada,Gaiola dourada;
Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos e tudo.
Por que é que, tendo tudo, há de ficar
O passarinho mudo,Arrepiado e triste sem cantar?
É que, criança, os pássaros não falam.
Só gorjeando a sua dor exalam,Sem que os homens os possam entender;
Se os pássaros falassem, Talvez os teus ouvidos escutassem
Este cativo pássaro dizer:

"Não quero o teu alpiste!
Gosto mais do alimento que procuro
Na mata livre em que voar me viste;
Tenho água fresca num recanto escuro
Da selva em que nasci;
Da mata entre os verdores,Tenho frutos e flores
Sem precisar de ti!
Não quero a tua esplêndida gaiola!
Pois nenhuma riqueza me consola,De haver perdido aquilo que perdi...
Prefiro o ninho humilde construído
De folhas secas, plácido, escondido.
Solta-me ao vento e ao sol!
Com que direito à escravidão me obrigas?
Quero saudar as pombas do arrebol!
Quero, ao cair da tarde,Entoar minhas tristíssimas cantigas!
Por que me prendes?
Solta-me, covarde!
Deus me deu por gaiola a imensidade!
Não me roubes a minha liberdade...
Quero voar!
Voar!"

Estas cousas o pássaro diria,Se pudesse falar,E a tua alma, criança, tremeria,Vendo tanta aflição,E a tua mão tremendo lhe abriria
A porta da prisão...

Olavo BilacPosted by Picasa

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